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Gracias, Santiago!


Começarei este relato pelos últimos quilômetros antes de chegar à Catedral de Santiago de Compostela. Acordei no Albergue de Milladoiro, a apenas 8 km do destino final.

Fiz esse trecho sozinha. Acho que neste dia não cruzei com nenhum peregrino. Passei por uma camélia e resolvi voltar e colher uma flor e prendê-la no meu chapéu. Além de linda e perfumada, esta é a flor da Galícia.

Neste dia andei um pouco mais devagar que anteriormente, talvez porque quisesse prolongar aquelas poucas horas que me separavam da Catedral. À medida que entrava na cidade, caminhando na cadência do bastão, chapéu, mochila e minha camélia branca, me sentia tão incrivelmente bem. Os carros paravam pra eu passar - não só pra mim, claro. Mas, parar para o peregrino é uma forma de reverência ao caminhante.

Num dado momento, perdi as sinalizações do Caminho, o que me fez reencontrar alguns peregrinos que não via há dias. A chegada foi emocionante. Eu me sentei em uma das colunas em frente à Catedral e ali fiquei por algumas horas, só sentindo e observando todos que chegavam depois de mim.

Fui tomada de emoção quando vi David e seu pai, que caminhavam juntos. Eles chegaram e se abraçaram... Foi com esses dois espanhóis encantadores - que encontrei em Porriño e desde então se tornaram companheiros diários -, que compartilhei a alegria da chegada.

Posso dizer que vivi uma vida em 15 dias. Pessoas, lugares e momentos que ficarão marcados na minha alma e no meu corpo. Quando penso nesses dias e em tudo que vivi, sinto que uma luz poderosa atravessa o meu plexo solar e isso me causa um leve desconforto, talvez pelo quão poderoso foi tudo o que vivi.

Esse relato poderia ser uma oração, uma declaração de amor ou uma maneira se seguir em frente depois do tanto que esse caminho que me deu.

Foram florestas encantadas, nascentes, tocador de gaita-de-foles no meio do nada, garrafas e garrafas de Alvarinho, festival de marionetes, lágrimas, risos, orações, chuva, muita chuva, e um desejo enorme de viver e continuar caminhando. E aquela coragem que eu tinha perdido em algum momento da vida, estava de volta.

Na véspera da chegada a Santiago, visitei de maneira particular e espetacular El Pazo de Faramello onde está uma parte do original Caminho por onde passaram os apóstolos. Não tenho dúvidas que ali é o um pedaço do céu na terra. Mas isso merece um post especial.

152 quilômetros separavam a linda cidade de Ponte de Lima, onde comecei minha peregrinação até a Catedral de Santiago de Compostela, o meu destino final.

Agora, são muitos rostos que voltam a minha memória, tantos sotaques, tantos bons desejos trocados com desconhecidos que caminhavam numa mesma direção.

Vivi uma experiência completa que incluiu a Missa do Peregrino ao meio-dia do dia 21 de maio de 2022, com direito a botafumeiro, como diriam os espanhóis: ¨de película¨.

Não posso deixar de agradecer:

À Lilian, que dividiu esse sonho comigo. Em alguns momentos, seguimos separadas, tal qual é a vida, nos reencontramos na volta ao Brasil.

À Junia, amiga que me emprestou absolutamente tudo e imprimiu o mapa do Caminho Português Central e, de longe, me acompanhou.

Ao Bê Santanna pelo podcast, pelas mensagens, pelo vinho e por me dizer, ainda na cidade do Porto, que qualquer coisa que eu precisasse era só pedir, em voz alta, que Santiago estaria sempre por perto. E foi o que fiz todos os dias.

¨Gracias, Santiago¨, por tanto, por tudo, pelo para sempre.

E Bê, como você mesmo disse, coincidência é o outro nome de Deus, e disso eu não tenho dúvidas.


Carol, uma aprendiz de peregrina!




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