Em busca de uma vida sustentável
Navegamos pelas águas escuras do Rio Negro por seis dias. Foi minha quarta viagem para a Amazônia. O destino era Novo Airão. Subimos o rio entre as Anavilhanas, segundo maior arquipélogo de água doce do planeta. Estávamos a bordo do Belo Shabono, barco regional de 26 metros de comprimento por 7 de largura, a uma velocidade média de 30 km por hora. A embarcação foi construída por artesãos navais do Alto Rio Negro.
Tambaqui, tucupi, tacacá, jambu, tucunaré e cupuaçu fizeram parte das experiências incríveis desta expedição assim como nadar em águas ácidas. A acidez vem da decomposição orgânica de pântanos que ficam nos arredores e, por isso, não deixam que os insetos se proliferem. Isso mesmo, quase não há insetos nesta região. Também caminhamos pelas praias que emergem nos períodos de seca, que se estendem até novembro.
As chuvas, ao chegar, transformarão parte da Amazônia em floresta alagada. Ouvimos estórias de ribeirinhos, de índios, de voluntários que, realmente, se importam com a natureza. Muitos deles cruzam o país, às vezes, o mundo, para fazer alguma diferença na vida destas pessoas e da natureza.
Sem conexão wifi ou sinal de celular, a vida nos coloca no aqui e no agora. Os nossos olhos se voltam para o horizonte. Entre tantas estórias que ouvimos, a fala do cacique da comunidade indígena Tuiucas nos faz repensar: “não existe diferença entre nós índios e a natureza, somos parte dela.” O que a Amazônia me ensina a cada volta minha à região? Ela me confirma que só podemos amar o que conhecemos. E o Brasil não conhece a Amazônia. As pessoas precisam ver com seus próprios olhos, vivê-la com o corpo e a alma. Só assim teremos alguma chance de protegê-la. Depende do homem a sobrevivência da nossa maior riqueza natural. Eu me conecto com Deus, sentada na proa de uma canoa e sentindo o vento no rosto. Tudo é mágico. E tão real. O Rio Negro se transforma em espelho na "golden hour". Neste momento você vê, sem margem a dúvidas, que não é preciso morrer para ir pro céu. Você está viva. No paraíso na Terra. Acordar antes do sol nascer, enquanto o stand-up paddle risca as águas negras e você descobre de que não está sozinha. Botos lhe acompanham nesta viagem. Isso, sim,
traz de volta aquela esperança que, por algum tempo, nos fez sentir à deriva.
Éramos cinco nessa viagem: Jaqueline Gil, ex intercambista e fundadora do projeto @ampliamundo e que trabalhou por nove anos na embaixada da Nova Zelândia. Mari Caminha, jornalista que viveu em Londres por oito anos, mãe do Fabrício e do Santiago, que trabalha na @rioconnect. Beatriz Gontijo, que estuda Business em Michigan. Bernardo Gontijo, presidente da Belo Travel Tours, um homem do mundo e um apaixonado pela Amazônia. Ah! E um staff maravilhoso: André, nosso comandante, Adilson, Seu Raimundo, Mara, Bial, Sabá e @nigel_manso. Além das experiências incríveis vividas, dividimos o amor por essa Floresta. Tudo que foi compartilhado nos conecta de uma maneira irreversível. E isso é motivo de imensa alegria e nos faz acreditar que, ainda, existe um caminho para uma vida ecologicamente correta, economicamente viável, socialmente justa e culturalmente diversa. A gente volta pra casa acreditando que é possível viver uma vida sustentável.
Carol, que lindo! Eu amo o Rio Negro. Fui duas vezes. Na segunda, pude levar parte da minha família para fazer exatamente o que você falou: conhecer a Amazônia para amá-la. ë verdade, o brasileiro não conhece a Amazônia. Se conhecesse, sentiria dor todas as vezes que vem a notícia de um pedaço dela que se vai. Poxa, e saber que você foi a Novo Airão, exatamente meu ponto de chegança e partida do Rio Negro, me deu ainda mais alegria. Viva, a Amazônia, Carol!!!! Viva a sua arte, Carol!